É impossível falar em manejo pré-abate e não mencionar o bem estar animal. O bem estar animal vem sendo amplamente discutido e estudado por diversos pesquisadores. É notório que as boas práticas de manejo interferem na qualidade da carne e por consequência no lucro de pecuaristas e dos frigoríficos. Para esclarecer a importância desta prática que vai desde a fazenda até o momento do abate, vamos explicar em detalhes o manejo pré-abate! Mas antes vamos falar um pouco sobre o bem estar animal.
O que é Bem Estar Animal?
Bem estar animal, nada mais é do que garantir um ambiente favorável para o crescimento e desenvolvimento dos animais, que não cause dor, nem sofrimento e que permita a estes condições para expressarem seu comportamento natural.
O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento(MAPA) é responsável pelo estímulo e desenvolvimento da produção pecuária e pela fiscalização do bem-estar dos animais de produção e interesse econômico. Acesse o site do MAPA, para ter acesso as legislações e materiais sobre este assunto..
O Bem Estar Animal é embasado no conceito das “Cinco Novas Liberdades” desenvolvidas pela Farm Animal Welfare Committee (FAWC), do Reino Unido. Confira quais são:
1. LIBERDADE FISIOLÓGICA: Livre de fome e sede
Os animais devem ter acesso à água e alimento adequados para manter sua saúde.
2. LIBERDADE AMBIENTAL: Livre de desconforto
O ambiente em que eles vivem deve ser adequado a cada espécie, com condições de abrigo, temperatura e descanso adequados.
3. LIBERDADE SANITÁRIA: Livre de dor, doença e injúria
Deve ser trabalhado com a prevenção, rápido diagnóstico e tratamento adequado aos animais.
4. LIBERDADE COMPORTAMENTAL: Ter liberdade para expressar os comportamentos naturais da espécie
Os animais devem ter a liberdade para se comportar naturalmente, o que exige espaço suficiente, instalações adequadas e a companhia da sua própria espécie.
5. LIBERDADE PSICOLÓGICA: Livre de medo e de estresse
Não é só o sofrimento físico que precisa ser evitado. Os animais também não devem ser submetidos a condições que os levem ao sofrimento mental, para que não fiquem assustados ou estressados.
Vale ressaltar que o bem estar animal deve ser colocado em prática durante toda a vida do animal, compreendendo desde o seu nascimento até o momento do abate.
Manejo Racional
Este conjunto de práticas de bem estar animal, devem estar alinhados a boas práticas de manejo. O manejo racional esta associado ao treinamento de mão de obra, planejamento das instalações e a seleção dos animais.
O treinamento da mão de obra é essencial para se ter um bom manejo, o operador precisa saber qual é a melhor maneira para conduzir os animais, evitando assim as contusões e lesões desnecessárias nas carcaças.
Um manejo inadequado (agressivo) dos animais leva a sérios prejuízos, como: contusões dos animais; diminuição do ganho de peso; menor qualidade da carne; queda da performance reprodutiva; baixa resistência a doenças e ainda pode causar acidentes com os colaboradores.
Quando as instalações são projetadas de acordo com as suas finalidades, as operações são facilitadas, como exemplo podemos destacar o planejamento de currais, o quais podem ser em formato de espinha de peixe ou em formatos circulares, que facilitam a circulação dos animais, com relação a criação de suínos, estes podem ser mantidos em baias coletivas, e tem a opção do uso de cama sobreposta, com uso de maravalha, casca de arroz, palha de cereais e a serragem, o que conferem um maior conforto aos animais. Confira as vantagens do planejamento dos currais e baias:
- Redução do tempo de trabalho;
- Aumento da segurança do operador e da operação;
- Redução de maus tratos e estresse;
- Melhor qualidade da carcaça.
Outro fator importante para se ter um bom manejo, é relacionado ao temperamento dos animais, o qual é moldado de acordo com o ambiente e as condições que os animais são submetidos e também através da seleção genética.
Embarque
É durante a etapa de embarque que o estresses dos animais geralmente tem inicio, isso porque, a maioria das vezes nesta etapa os responsáveis pelo embarque não possuem conhecimento dos princípios básicos do bem estar, e portanto acabam fazendo o uso de ferrões ou choques elétricos comprometendo a qualidade da carcaça.
Os animais devem ser conduzidos de forma tranquila ao caminhão, onde o operador pode levar consigo uma bandeira para fazer com que os animais andem na direção desejada. Gritos, pontapés e uso de bastões e choques elétricos não resolvem o problema, pelo contrário só pioram, pois no momento do abate são nítidas as lesões nas carcaças devido a estas ações.
Na maioria das vezes estas lesões acontecem em cortes nobres, como a picanha nos bovinos, o pernil nos suínos e o peito no caso dos frangos. Portanto além da questão do bem estar animal, ainda tem-se a questão da lucratividade, onde estes cortes terão rejeição para a sua venda in natura e em alguns casos não poderão ser usados no processamento de produtos, aumentando ainda mais os prejuízos.
Já com relação aos embarcadouros, estes devem ser construídos com as laterais fechadas, a fim de evitar que os animais se distraiam com outros animais e com pessoas que estejam na volta, além de diminuírem as projeções de sombras, as quais acabam assustando os animais. Os pisos devem ser antiderrapantes, para evitar quedas e possíveis contusões.
Transporte
O transporte em si, é considerado o evento mais estressante para os animais, tenho em vista que estes são conduzidos para um local desconhecido, e em algumas vezes em condições inadequados, tanto do veículo quanto das estradas.
Portanto é fundamental garantir as melhores condições no momento do transporte, o ideal é que o transporte seja realizado em horários de menor intensidade de calor, principalmente no verão. A distância das fazendas até os frigoríficos também é importante, devendo sempre dar preferência para distâncias mais curtas e os caminhões devem estar em condições adequadas de transporte.
Outra questão importante durante o transporte é a densidade dos animais, ou seja quantos animais irão ocupar um determinado espaço no interior do caminhão. Para bovinos o recomendado é 400 kg/m², suínos 235 kg/m2 e para Aves 22kg/caixa. Os lotes devem ser separados por granjas, o que evita brigas entre os animais, devendo cuidar também para manter separado os machos das fêmeas.
Desembarque, Jejum e Dieta Hídrica
Na etapa de desembarque devem ser levados em conta as mesmas características do momento do embarque, como o cuidado no manejo e rampas com pisos antiderrapantes.
Ao chegarem aos frigoríficos, os animais passam pelo jejum e dieta hídrica, onde o objetivo é que estes se recuperem da viagem e que estejam com o trato gastrointestinal limpo, para evitar contaminações durante o processo de abate.
Este período varia de 6 a 24 horas, não podendo jamais exceder 24 horas, pois acarreta em significativa perda da qualidade da carne.
Os frangos são as únicas espécies que ao chegarem ao frigorífico permanecem fazendo o descanso no próprio caminhão, onde possuem sistema de climatização e aspersão de água para proporcionar um ambiente agradável.
Após o jejum e a dieta hídrica, é realizado o banho de aspersão, o qual tem a finalidade de limpar o animal, bem como proporcionar o relaxamento e a vasoconstrição, o que facilita a etapa de sangria e garante o bem estar aos animais.
A próxima etapa do abate é a insensibilização, esta operação pode ser considerada a primeira etapa operacional do abate propriamente dita e portanto será assunto destacado em um próximo artigo.
Conclusão
Através do exposto, podemos concluir que um bom manejo aliado a práticas de bem estar animal, são fundamentais para evitar perdas tanto de qualidade, quanto de lucratividade, portanto o manejo racional aliado a práticas de bem estar animal, vão muito além do lucro, trata-se de respeito aos animais e aos consumidores, que hoje buscam meios alternativos de criação de animais, que envolvam a sustentabilidade e o cuidado, consumidores estes que se preocupam em saber a procedência da carne que consomem.